O tribunal da Internet: como as redes sociais deixam as pessoas mais burras.

13/06/2020

A internet está mudando a vida das pessoas radicalmente. Há quarenta anos atrás, seria impossível adquirir um livro em pdf, você precisaria, necessariamente, ir à biblioteca e comprar. Hoje, não é bem assim. Eu não conseguiria comprar um objeto importante sem ir até o local. A internet mudou tudo. Mas, como nem tudo são flores, a internet mostrou seus espinhos. Pense: uma base de dados que disponibiliza às pessoas comunicação em massa, ou seja, temos várias pessoas querendo impor o seu modelo de mundo ideal: o que estávamos pensando, tinha tudo pra dar errado.

De repente, todo mundo sabe o que é melhor para todo mundo porque está na wikipédia. Dificilmente você não encontrará uma resposta à pergunta que fizer, salvo algumas exceções, é claro: a internet não sabe qual é o sentido da vida, mas ela sabe muita coisa. Em outras palavras, eu tenho uma rede que pode proporcionar informação, isso causa uma certa presunção no indivíduo, mesmo para o debate mais simples, se você tiver acompanhado de um celular, haverá um momento em que você dirá: espera ai, vou pesquisar aqui...

A internet nos dá essa sensação de "sábios", ou melhor, os sábios da era digital. Existe um fenômeno ainda mais interessante, que é o título do artigo: o tribunal da internet. A sociedade é repleta de conhecimentos empíricos, ou seja, a estrutura social é derivada da experiência: descobrimos que precisávamos de um poder para conter abusos, um sistema de mercado, entre outros exemplos. A história nos mostra que a maioria nem sempre decide certo, ou seja, nem sempre é capaz de tomar as melhores decisões. Por esse mesmo motivo, a lei aparece como algo que, embora possa parecer abstrato, coloca os homens em pé de igualdade, já que ninguém pode cogitar estar acima da lei. Contudo, para o desenvolvimento correto desse sistema, exigiu-se um conhecimento específico, hoje, conhecido como cursos superiores.

As redes sociais descendem de um sistema completamente distinto: a natureza humana. Em outras palavras, elas liberam o que há de pior na humanidade: o achismo generalizado. Como disse, todos possuímos uma espécie de saber ideal, todos sabemos como os outros devem viver, agir, falar - em alguns casos, até pensar - mas ninguém sabe tomar conta da sua própria vida - impressionante. Agora, imagine um indivíduo presunçoso, que não viveu metade da vida, com uma ferramente como a internet, poderia dar certo?

Além de idealizar o seu mundo ideal, ele quer que todo mundo saiba disso, respeite e viva isso. Assim nasceu o tribunal da internet: Todo mundo sabe o que você deve fazer - menos você. Surgem outras formas ainda mais tolas de controle, como o politicamente correto, cancelamento, mas isso é assunto para outro artigo. O tribunal da internet avaliará todas as provas, coletará todos os relatos - contrários a você, é claro - e consultará qualquer opinião que seja oposta às suas ideias, e você está enganado se pensa que será absolvido, ou você concorda com o tribunal e adere à moda, ou você será considerado culpado. Para os espíritos mais carentes, o medo de ser cancelado, de não fazer parte de algum grupo, pode significar o fim, para outros espíritos, isso não faz a menor diferença - como é o meu caso.

A tão conhecida geração mimimi - chamada pelo filósofo Luiz Felipe Pondé - está cada vez mais melancólica, mimada, exigente e, em última análise, burra. Não chamo de "burra" por falha neurológica- tenho certeza que todos os neurônios estão em dia - chamo de burra no sentido de que essa geração pensa, em seu mundo imaginário, que ela é única no mundo, que foi concebida por anjos e que ela sabe o que é o melhor para humanidade. Ora, nem os maiores filósofos da história da humanidade chegaram à uma conclusão unanime sobre o bem, imagine alguém que acabou de "nascer". O papel da internet nisso? Fazer essa geração acreditar nisso. Você é especial, você é único - a maior obviedade de todas -, você é maravilhoso, você é... Você é mais um indivíduo no mundo, em um teia coletiva que está repleta de pessoas e, essas mesmas pessoas, que possuem tarefas e atividades especificas, vivem nesse mundo - o real - atendendo uma pequeníssima parcela de suas necessidades com o próprio trabalho e, por outro lado, sendo atendida por outros indivíduos. Em outras palavras, você depende de outras pessoas, outras pessoas dependem de você, assim é o mundo, assim ele deve ser. Mas, em termos de mercado, ninguém é insubstituível. Você, ou melhor, nós somos especiais apenas para nossos familiares, como costumo dizer: a família ama você, o estado e o mercado amam o que você pode fazer.

Esse é o "mundo" oculto pelo tribunal da internet, o mundo que espera essa geração com um belo pontapé, dizendo: aqui você é só mais um.


Renan Jorge - Blog de Filosofia
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